domingo, 1 de junho de 2008

DIA DA IMPRENSA

Imprensa brasileira comemora 200 anos

A arte de “impressionar”

Por Livia Ciccarini

“O curioso perguntou: ‘O que é jazz?’ O músico respondeu: ‘Quando você ouvir, saberá’”. O que é notícia? Esta foi a resposta dada por Ricardo Noblat - depois de ler o diálogo em um livro - a um estagiário seu.
Não iremos falar somente das dificuldades. Passaremos brevemente pela história ou algumas pequenas pedras pelo caminho do dia a dia jornalístico. Mas hoje queremos falar sobre o faro. É sobre sentir o cheiro do jornal.
Qual profissional nunca teve que levantar de madrugada para cobrir um fato? Quem nunca levou um processo por danos morais por falar a verdade?
Fazer ronda, perturbar a polícia, criar vínculos, conquistar confiança, proteger a fonte até a morte. Apurar, apurar e apurar, e vibrar pela conquista de uma informação de primeira mão.
Há quem não saiba que o jornal tem um cheiro. Um dia ouvi um professor meu dizer que há quem viva do jornalismo e há quem viva pro jornalismo. Talvez aí esteja a diferença.
Para o cidadão que toma um café na esquina, pegar um jornal e ler é apenas receber a mensagem e absorver – ou não - a informação. Sujar as mãos, reclamar da qualidade do papel, talvez xingar um político ou outro e, por fim, jogá-lo fora. Mas... e para o autor? Chego a comparar a notícia escrita a um vínculo quase maternal (talvez até esteja aí uma das principais picuinhas entre repórteres e editores).
Insisto no jornal impresso, porque é dele que tiro meu pão, mas podemos adaptar a situação a outros veículos de informação. Porém, por mais que o rádio seja o mais veloz, a TV vislumbre, e o atualíssimo jornalismo online impressione pela sua agilidade e acessibilidade, é inegável que o impresso ainda é o mais charmoso dos veículos comunicativos e informativos. (E ele não irá acabar ao contrário do que muitos pensam).
Nunca sentei em frente a uma máquina de escrever, a não ser brincando com meu avô, e quando nasci a ditadura havia acabado há pouco. Mas o pouco tempo que vivo dentro da redação – literalmente – me dá certo respaldo para falar sobre o dia a dia de um jornal, principalmente dentro de cidades pequenas.
Como tudo que já foi inventado, dizem que os primórdios do jornalismo foram na China. Já o termo jornalismo é relativamente moderno, mas a sua história é antiga. No Brasil, houve demora no seu reconhecimento devido a censura e proibições impostas pela Coroa Portuguesa, mas em 1808 surgiram simultaneamente dois jornais: o Correio Braziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro.
O Correio Braziliense, jornal que em 1960 foi retomado por Assis Chateubriand e se estende até os dias de hoje, era remetido clandestinamente para o Brasil e defendia ideais liberais como a monarquia constitucional e o fim da escravidão. Ele também deu apoio a Revolução Pernambucana e aos acontecimentos que remeteram à Independência do Brasil. A partir daí surgia a imprensa brasileira.
A imprensa brasileira passou por períodos turbulentos, principalmente durante a ditadura militar. O Estado de São Paulo foi o único jornal a não apoiar o regime e sofreu repressão por isso. Alguns apoiaram e muitos se calaram por medo ou até mesmo omissão, pode-se dizer.
É fato que já vivemos numa “democracia” e que os tempos já não são tão difíceis como há 40 anos, mas cada dificuldade deve ser enquadrada no seu tempo.
A missão do jornalista é informar ou melhor: contar histórias. Principalmente em cidade com menos de 150 mil habitantes. Quem vive, - seja do ou para o jornalismo – sabe das dificuldades cotidianas.
Então, por que escolher ser jornalista se as dificuldades são tantas???? Costumo dizer que jornalismo é um estado de espírito. Até porque muitos não possuem diploma e nem por isso não exercem de forma incorreta a profissão.
E só por isso a imprensa local não deve existir??? É lógico que deve, e de forma muito mais atuante. São coisas e coisas, alguns exercem de forma correta. Outros não. Mas não se deve generalizar.
Os mais antigos não eram formados e exerciam de forma excepcional, suas funções. Mas o que se atribui a função de jornalista? O problema do jornalismo regional é que muitos ainda não perceberam que o “jornalismo” – com responsabilidade – não é o quarto poder. Ele é sim, o primeiro. E sua função é totalmente social. Porém, uma boa apuração exige tempo, e as mudanças também.
Mais um problema regional: competitividade. Muriaé hoje possui oito jornais impressos. Sendo sete deles semanal e um diário. (E não importa que sejam semanais, pois leitores uma vez conquistados, não abandonam a preferência). Agora pensem bem, o estrago que oito jornais juntos não fariam aos corruptos?
Acho que este dia 1º de junho, o Dia da Imprensa Brasileira, deve ser tomado como princípio de união. Quer seja um de esquerda, outro de direita. Seja situação ou oposição. Todos devem caminhar juntos. E é por isso que digo, que o furo é natural, mas o princípio jornalístico deve ser sempre o mesmo.

Lívia Ciccarini é estudante de jornalismo e repórter do Jornal Diário de Muriaé

3 comentários:

QUIARELI disse...

" (...) ... exerci o prazer da leitura ao ler o presente texto, sem que houvesse necessidade de reler, haja vista que o mesmo sintetiza, primeiramente, nada mais, nada menos do que uma obrigação moral de toda pessoa comprometida com a noticia: A verdade.Pertinente ao comprometimento, ora mencionado, temos a imparcialidade, palavra esta distante hoje, até mesmo da doutrina do Ministério Público brasilerio, porque através de seus representantes, são parcias por excelência, incubência esta (comprometimento) jamais podem faltar ao profisional da verdade imparcial (impresa), sob pena de igualar-se ao Ministério Público, por que tanto um (Ministério Público) quanto o outro (Imprnsa) buscam o título imaginário do quarto poder, porém pela credibilidade e autonomia, o título imaginário por manifestação natural (vox populi) é atribuído a imprensa. Outro tópico mencionado no texto é o fato de haver inúmeros jornais e que tal pluralidade beneficiariam os corruptos, assim sendo o fato é que numa "peneira" de futebol, onde mais de cem crianças vão, com o propósito único de realizar-se como jogador de futebol, somente onze pessoas, do goleiro ao ponta esquerda, irão jogar. Concluindo:o órgão de imprensa (jornal), bem como seu instrumento (jornalista/reporter/fotográfo/cooperador), deve restingir-se a sua parte, a sua tarefa, o seu compromisso, com a verdade, afastando-se da preocupação da competitividade, até porque somente se compete com quem é competidor, e o que vemos e observamos em Muriaé, são impressos que jamais podem ser, cogitados, como competidores, menos ainda integrantes da impresa brasileira. por fim democraticamente falando os jornais de Muriaé (Gazeta, A Notícia, dentre outros, não passam de pasquins, porque restringe-se única e somente ás vendas de propagandas e a parte social (que não interessa) enquanto o poder econômico desta cidade casa-se com o poder político, nascendo desta união um incesto social.

Carlos Maestre disse...

A autora sabe o quanto eu gostei desse texto! =) merece ser publicado todos os anos =x
=D

OBS: tomei a liberdade de adicionar um link para este... qqr problema é só deixar um comentário ou email! =)
http://novamuriavelha.blogspot.com

Da Lama ao Caos disse...

Caro Quiareli,

Posso não ter sido clara o suficiente no meu texto quando disse "Agora pensem bem, o estrago que oito jornais juntos não fariam aos corruptos?".
O que eu quis dizer é que já que existem 8 jornais dentro de Muriaé (se é que a alguns podemos dar esse título) por que não parar de picuinhas e unir forças para denunciar as tantas irregularidades que existem na nossa cidade??? Sempre acreditei que já que a maioria dos nossos governantes não cumprem o seu devido papel, a imprensa deve ser a voz do povo, buscando sempre "A verdade".
Sei que a imprensa muriaeense é de péssima qualidade, e passam o tempo brincando de vender matérias, contudo não podemos perder as esperanças.

Eu tento fazer a minha parte no meu dia a dia.

Obrigada!